A comunicação infantil muitas vezes vai além das palavras. Para as crianças, o desenho serve como uma ponte entre o mundo consciente e o inconsciente, permitindo que elas expressem sentimentos e pensamentos que ainda não conseguem verbalizar. Mas como exatamente o desenho ajuda as crianças a comunicar o que está além de seu alcance linguístico? Vamos explorar esse fascinante processo.
Sigmund Freud, o pai da psicanálise, nos lembra que “não somos senhores em nossa própria casa”, referindo-se ao vasto e muitas vezes inacessível território do inconsciente. Esse domínio psíquico, cheio de pensamentos, traumas e sintomas, é atemporal e difícil de alcançar diretamente. Segundo Freud, grande parte da nossa vida mental escapa ao controle consciente. É nesse contexto que o desenho infantil assume um papel crucial.
O desenho infantil é um canal direto para o inconsciente. Annie Anzieu descreve o desenho como estando “em um nível intermediário entre a brincadeira e a fala”. Quando uma criança desenha, ela utiliza um meio de expressão que pode ser comparado às associações livres utilizadas na análise dos adultos. Cada traçado e cada cor escolhida carregam a força da emoção inconsciente, oferecendo uma janela para o mundo interno da criança. Através do desenho, a criança consegue dar forma ao que insiste em não ser dito, lidando com o real não simbolizado e os contextos que ela ainda não tem recursos para enfrentar diretamente.
Muitos adultos podem subestimar o valor do desenho infantil, vendo-o apenas como uma atividade lúdica sem grande importância. No entanto, compreender o papel profundo que o desenho pode desempenhar na expressão e processamento emocional das crianças é essencial. Em vez de apenas julgar os desenhos, os adultos podem aprender a interpretá-los, ajudando a desatar os nós emocionais que a criança ainda não consegue verbalizar.
Durante o desenvolvimento, a criança enfrenta uma longa jornada de maturação da linguagem. Este caminho é árduo e muitas vezes insuficiente para que ela consiga expressar plenamente seus sentimentos. Através do desenho, a criança cria uma ligação íntima consigo mesma, superando a falta de instrumentalização cognitiva e o medo associado à linguagem falada. O lúdico e o desenho se tornam ferramentas inigualáveis para a elaboração própria do indivíduo, permitindo que a criança simbolize e processe suas experiências de maneira segura e criativa.
É essencial que pais, educadores e profissionais de saúde mental valorizem e incentivem o uso do desenho como uma forma de expressão infantil. Observar e interpretar esses desenhos pode fornecer insights valiosos sobre o mundo interno das crianças, ajudando-as a lidar com emoções complexas e experiências difíceis.
Para uma discussão mais detalhada sobre o papel do desenho e do lúdico na expressão infantil, e como os adultos podem aprender a interpretar esses sinais, assista ao vídeo completo em nosso canal.